Esperaria a tua resposta por um milênio inteiro
conquanto não ficasse exposta
minha carne diante do Sol,
do vento e da chuva qeu me condena.
Ficaria qual um tolo, burro:
chacotado pelos transeuntes,
ao sentar no meio-fio
e lá servir de alvo às pombas.
Os camelôs me trariam água,
os gatos algum consolo.
As senhoras gordas, segurando fartas bolsas
me surrariam, abrindo
uma chaga nas minhas costas.
Meus livros me fariam companhia
para que não perdesse o português,
assim como jornais de dias passados.
Essas crianças desprovidas de folclore
até fariam um ciranda ao meu redor:
"Se eu tivesse um namorado,
mil beijos teria dado.
Se eu tivesse um noivinho,
beijava com mais carinho.
Se eu tivesse um marido,
dois filhos já tinha tido.
Se eu tivesse um poeta,
tacava-lhe uma panela."
Ficaria imóvel feito árvore
contigenciando forças para lhe ver.
Ao lhe ter os olhos percorrendo a rua
em busca de um destino perdido
o coração pulsa brevemente.
Vem andando com passos torpes
porém ritmados, a boca cantarola
uma canção feliz de nosso tempo,
escuto-a com um pavor suplicante
de uma memória esquecida.
O vento alija a pele, gelando
o suor de nervoso.
A proximidade rasgava-me
a úlcera em meu estômago.
Quando ela chega, pára.
Os dois se olham com a ausência
de mais de milênio.
Ela o esquecera no meio-fio.
Ele se comprometera a esperar.
Os segundos eram muitos
e ficaram se olhando
num deslumbre falso da realidade
esquecida de que amava.
Amara alguém, mas quem seria?
Ele tinha como recordar
o que fizeram juntos e as imagens
se repetiam feito projeção na retina.
E ficaram se olhando
quem seria este rapaz?
Deu meia-volta e partiu como veio.
Ainda calado, resolveu sentar-se
e esperar, talvez, outro milênio.
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