Peitos, bundas e coxas
Circulam pelos pilotis.
Coxas tonificadas,
Jovens e retesadas
Sob os passos tortos
Das sapatilhas douradas.
Coxas que estiveram
Em Paris – em sobretudo –
E outras que propulsionaram
Bicicletas em Amsterdã.
Coxa sobre coxa:
Quantas pernas não estiveram
Presas ali, congestionadas
Coaguladas
Pela passagem advertida
De um sem-número de outras coxas,
De outras noites.
Na chuva,
As gotas percorrem
Suas veias e estrias
Seus sulcos na epiderme
Revelando seus caminhos
Inebriando seus sentidos.
Numa dessas janelas meio-acesas da madrugada
Pende uma coxa exposta
Pendem corpos sem sono
Ávidos pela pouca luz que a lâmpada produz
Inertes no silêncio absoluto de suas respirações.
Aquela luz que faz enxergar as sombras
O contorno imediato, escurecido
De toda extensão desconhecida
De todo desejo guardado.
As coxas sufocam,
Espremem e ajustam.
Mas também liberam
Outros líquidos que jorram,
Indefinidamente um grito
Que aspira recompor
Os traços das coxas nuas, vivas,
Mas, no fim, solitárias.